15 de nov. de 2011

Os Indiferentes


Antonio Gramsci

11 de Fevereiro de 1917

 

(adaptação do texto original disponível em http://www.marxists.org/portugues/gramsci/1917/02/11.htm)

 

Viver significa tomar partido. Não podem existir apenas os estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida.
A indiferença é o peso morto da história. É a bala de chumbo para o inovador, é a matéria inerte em que se afogam os entusiasmos mais esplendorosos, é o fosso que circunda a velha cidade e a defende melhor do que as mais sólidas muralhas, melhor do que o peito dos seus guerreiros, porque os dizima e desencoraja e às vezes os leva a desistir da criação heróica.
A indiferença atua poderosamente, atua passivamente, mas atua. É a fatalidade; é aquilo que confunde os programas, que destrói os planos - mesmo os mais bem construídos; é a matéria bruta que se revolta contra a inteligência e a sufoca.
O que acontece - o mal que se abate sobre todos - não acontece tanto porque alguns querem que aconteça, mas porque existe a massa de indiferentes, que abdica da sua vontade, deixa fazer. Deixa promulgar leis que depois só a revolta fará anular, deixa subir ao poder homens que, depois, só uma sublevação poderá derrubar.
Poucas mãos, sem qualquer controle a vigiá-las, tecem a teia da vida coletiva. E a massa não sabe, porque não se preocupa com isso. Os destinos de uma época são manipulados de acordo com visões limitadas e com fins imediatos, de acordo com ambições e paixões pessoais de pequenos grupos ativos, e a massa desses indiferentes não se preocupa com isso.
Mas os fatos que amadureceram vêm à superfície; o tecido feito na sombra chega ao seu fim, e então parece ser a fatalidade a arrastar tudo e todos. E parece que a história não é mais do que um gigantesco fenômeno natural, uma erupção, um terremoto, de que são todos vítimas, o que quis e o que não quis, quem sabia e quem não sabia, quem se mostrou ativo e quem foi indiferente.
Os indiferentes então se zangam, eximindo-se das conseqüências, porque não deram seu aval e não se vêem responsáveis. Alguns choramingam piedosamente, outros blasfemam obscenamente, mas nenhum ou poucos põem esta questão: se eu tivesse também cumprido o meu dever, se tivesse procurado fazer valer a minha vontade, o meu parecer, teria sucedido o que sucedeu?
Mas nenhum ou poucos atribuem sua indiferença ou ceticismo ao fato de não ter contribuído com aqueles poucos cidadãos que, precisamente para evitarem esse mal, combatiam com o propósito de procurar o bem que pretendiam.
Sou militante, estou vivo. Sou militantee porisso abomino quem não toma partido, rejeito sumariamente os indiferentes.

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